Konzen

Hegel e os conceitos hobbesianos de estado de natureza (Naturzustand) e de natureza humana (Natur des Menschen)

Paulo Roberto Konzen

 

Resumo

Hegel fala da “originalidade das considerações” de Hobbes, sobretudo sobre seu conceito de “estado de natureza” (Naturzustand) e de “natureza humana” (Natur des Menschen), vinculados aos conceitos de “natureza da sociedade” e de “natureza do poder do Estado”. Por exemplo, Hegel afirma literalmente que “ele [Hobbes] considera este estado [de natureza] em seu verdadeiro sentido, não é o palavreado vazio de um estado naturalmente bom; é muito mais o estado animal”. Para Hegel, Hobbes mostrou que, no estado de natureza, “o homem se comporta segundo sua naturalidade”, a saber, “ele se comporta segundo os desejos, as inclinações, etc.”. Por isso, Hegel afirma o seguinte nas suas Lições sobre a História da Filosofia: “A guerra de todos contra todos é o verdadeiro estado da natureza, como Hobbes muito corretamente observou”. Porém, a “natureza dos homens” envolve “racionalidade”; assim, “o homem precisa sair do estado de natureza”, no caso Hegel citando o próprio Hobbes (De Cive, c. 1, § 12-14; Leviatã, c. 13). Trata-se de um aspecto reiterado por Hegel em várias de suas obras, sem propriamente dar sempre os devidos créditos a Hobbes. Em suma, o objetivo do artigo é apresentar e analisar a recepção hegeliana de Hobbes e a influência hobbesiana em Hegel, sobretudo diante dos respectivos conceitos de estado de natureza.

Palavras-chave

Hegel, Hobbes, homem, estado de natureza, natureza humana, racionalidade.Professor Adjunto da UNIR (Universidade Federal de Rondônia). Pós-Doutorando em Filosofia na UFSC (15.02.2016 – 15.01.2017). 1º Secretário da SHB (Sociedade Hegel Brasileira – Gestão

Referências

Referências Bibliográficas

HEGEL, G. W. F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio (1830): Terceira Parte. A Filosofia do Espírito. Trad. de Paulo Meneses. São Paulo: Loyola, 1995.

______. Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse (1830). Dritter Teil. Die Philosophie des Geistes. Suhrkamp: Verlag, 1970. Band 10.

______. Filosofia do Direito (Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito ou Direito Natural e Ciência do Estado em Compêndio). Tradução, notas, glossário e bibliografia de Paulo Meneses, Agemir Bavaresco, Alfredo Moraes, Danilo Vaz-Curado R. M. Costa, Greice Ane Barbieri e Paulo Roberto Konzen. Apresentações de Denis Lerrer Rosenfield e de Paulo Roberto Konzen. Recife, PE: UNICAP; São Paulo: Loyola; São Leopoldo: UNISINOS, 2010.

______. Philosophie des Rechts. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1971. Band 7.

______. Lecciones sobre la Historia de la Filosofía. Tradução de Wenceslao Roces, Vol. III. México: Fondo de Cultura Económica, 1995.

______. Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie II – III. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1971. Band 19 e 20.

______. Hegel Werke (contendo Frühe Schriften [Tomo 1], Jenaer Schriften [Tomo 2], Phänomenologie des Geistes [Tomo 3], Nürnberger und Heidelberger Schriften [Tomo 4], Die Wissenschaft der Logik [Tomos 5 e 6], Grundlinien der Philosophie des Rechts [Tomo 7], Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse [Tomos 8, 9 e 10], Berliner Schriften [Tomo 11], Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte [Tomo 12], Vorlesungen über die Ästhetik [Tomos 13, 14 e 15], Vorlesungen über die Philosophie der Religion [Tomos 16 e 17], Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie [Tomos 18, 19 e 20]). Seitenangabe der Textvorlage Hegel Werke in zwanzig Bänden, Suhrkamp Verlag, 1970. Berlin: Hegel-Institut, Talpa Verlag, 2000. CD-ROM.

HOBBES, Thomas. De Cive. Tradução de Ingeborg Soler. Introdução de Denis L. Rosenfield. Posfácio de Milton Meira do Nascimento. Petrópolis – RJ: Vozes, 1983.

______. De Cive. Disponível em inglês: http://www.constitution.org/th/decive.htm e em latim em: http://books.google.com.br/books?id=Z68WAAAAQAAJ&printsec=front cover#v=snippet&q=naturae&f=false

______. Do Cidadão. Trad. Renato J. Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

______. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultura, 1979.

INWOOD, Michael. Dicionário Hegel. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

KERVÉGAN, Jean-François. “Société civile et droit privé, entre Hobbes et Hegel”. In: Architectures de la Raison. Mélanges offerts à Alexandre Matheron. Textes réunis par Pierre François Moreau. Fontenay: ENS Editions, 1996.

KONZEN, Paulo Roberto. O conceito de Estado e o de Liberdade de Imprensa na Filosofia do Direito de G. W. F. Hegel. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2007. Disponível em: .

_____. O Conceito de Liberdade de Imprensa ou de Liberdade da Comunicação Pública na Filosofia do Direito de G. W. F. Hegel. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2013. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/48d206_b587dd42de9c4ff28a758df3f973b3f1.pdf

_____. Contexto Histórico e Sistemático da Filosofia do Direito de Hegel. In: HEGEL, G. W. F. Filosofia do Direito. São Paulo: Loyola; São Leopoldo: UNISINOS, 2010. p. 23-28.

_____; BAVARESCO, Agemir. Cenários da Liberdade de Imprensa e Opinião Pública em Hegel. In: Kriterion, v. 119, 2009. p. 63-92.

_____; PERTILLE, J. P. As Diversas Interpretações sobre a Filosofia do Direito de G. W. F. Hegel. In: Ágora Filosófica (UNICAP. Impresso), v. 1, 2011. p. 51-80.

PERTILLE, José Pinheiro. Faculdade do espírito e riqueza material: face e verso do conceito de Vermögen na filosofia de Hegel. Porto Alegre, 2005 (Tese – PPG/Fil/UFRGS).

RAMOS, César Augusto. “Hegel e a crítica ao Estado de Natureza do Jusnaturalismo moderno”. In: Revista Eletrônica Estudos Hegelianos. Ano 6, nº 10, Junho-2009: 61-72. Disponível em: http://www.hegelbrasil.org/Reh10/Cesar%20revisado.pdf

ROSENFIELD, Denis Lerrer. “Introdução”. In: HOBBES, T. De Cive. Tradução de Ingeborg Soler. Petrópolis – RJ: Vozes, 1983.

______. “Relação de Hegel a Hobbes”. In: Filosofia Política. Porto Alegre, v. 3, n. nova série, p. 115-142, 1998.

______. Política e liberdade em Hegel. São Paulo: Brasiliense, 1983. “Hegel e Hobbes: a propósito do estado de natureza”. p. 95-97.

TAMINIAUX, J. “Hegel et Hobbes”. In: Philosophie et Politique. Annales de L’Institut de Philosophie et de Sciences Morales, 1980-1981, Bruxelles, Yniversité de Bruxelles, 1981.

______. Naissence de la Philosophie Hegélienne de L’Etat: Commentaire et de la Realphilosophie d’Iena (1805-1086). Paris: Payot, 1984.